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Aquarius: a importância da memória

  • giuliaghigonetto
  • 19 de set. de 2016
  • 2 min de leitura

Acho importante dizer que não vou considerar nenhum aspecto político, nem tomar partido durante esta resenha.

Ontem fui almoçar com a minha irmã e decidimos assistir algum filme em cartaz no cinema. Escolhemos, então, conferir o tão polêmico Aquarius, do diretor Kleber Mendonça Filho.

O longa, que ganhou destaque após o protesto da produção durante o Festival de Cannes, conta a história de Clara (Sônia Braga), uma jornalista, viúva, mãe de três filhos, avó que passou por um câncer de mama quando jovem e que nos dias de hoje, vive confortavelmente em seu apartamento à beira do mar, em Recife. Porém, o prédio onde ela mora e viveu a vida inteira, foi comprado por uma construtora que quer derrubá-lo para construir um moderno edifício no lugar. Clara se recusa a vender seu apartamento e passa por uma série de provocações para que mude de ideia.

Uma das coisas que mais me chamou atenção foi a importância da trilha sonora. O diretor, que também roteirizou o filme, a usa quase como um personagem. Achei lindo ver a Clara rodeada de LPs, que por si só, contam uma história. To escrevendo isso olhando aqui para os meus, que misturam vinis novos e outros que pertenceram aos meus avós, meu pai, minha tia e imaginando quanta coisas eles representam.

Na verdade, os discos são mais um dos aspectos que contribuem para a grande questão do filme: a memória, o velho versus o novo. Clara não quer deixar aquele apartamento por conta das lembranças que vem junto com ele e resiste fortemente para preservá-las.

Outro elemento que gostei muito foi o cenário. Estamos falando de Recife e não do Rio de Janeiro ou São Paulo como na maioria das produções brasileiras. Essa é uma marca registrada de Kleber Mendonça Filho! Tanto em seus curtas metragens (como Recife Frio, meu trabalho preferido dele), quanto no seu famoso longa O Som ao Redor, a capital pernambucana é o plano de fundo das histórias e expõe outras dimensões da cultura brasileira. Em Aquarius, ele novamente fala sobre a ocupação do espaço, dando destaque para o processo de gentrificação e consequentemente, a perificação na cidade e para o caráter de quem a apropria.

Não posso deixar de lado o impressionante trabalho de Sônia Braga, que volta a atuar em um filme brasileiros depois de 15 anos. É incrível ver uma uma protagonista mulher, aos 66 anos, em uma esfera que aos poucos tem dado espaço para este tipo de personagem.

Minhas únicas decepções foram: o final (desculpa ao cinéfilos e entendidos no assunto, mas para mim, faltou alguma coisa) e o fato de que Braga não terá a chance de tentar uma vaga entre as indicadas a melhor atriz no Oscar, já que o representante brasileiro será Pequenos Segredos, sob a direção de David Schürmann (não tive a oportunidade de assisti-lo ainda).

Aquarius é sútil e denso ao mesmo tempo celebrando o afeto e as lembranças. Além de que, como dizem algumas críticas, é um ótimo estudo de personagem.

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